Os 23 melhores livros da literatura universal de todos os tempos

Apesar de nem todos os especialistas e críticos literários concordarem com esta lista, ela é bastante razoável e serve de incentivo para nós leitores. Ela é bem completa e ampla, podendo agradar aos mais exigentes perfis.

A Literatura é, sem dúvida, uma grande ferramenta que a humanidade descobriu e usa há milênios para comunicar o Belo, usando as palavras para proporcionar a todos que a utilizam uma experiência estética valorosa. Ela é capaz de ultrapassar fronteiras geográficas e temporais e poderosa para alcançar o coração daqueles que adentram suas histórias. Está presente em todas as culturas de todos os tempos.

Veja a lista e, se você ainda não leu alguma das obras citadas, não tem problema. Sempre é tempo de pegar uma delas, tomar um bom café e se deleitar nas páginas recheadas de imaginação e muitas aventuras e descobertas. Boa leitura!

Segue a lista:

Por Tony Oliveira – 21/04/2024

Esse tal senhor Tempo

Ah, esse senhor que não domamos. 

Esse ser que não tocamos. 

Esse alguém que simplesmente vem,

E passa por nós, sobre nós. 

Um desconhecido que chega à meia-noite.

Sem aviso prévio. Um intruso.

Inflexível. Implacável. Invulnerável. 

Era passado, fez-se presente e já é futuro.

Por que o tempo passa? 

Mas se não passasse não seria tempo! 

Seria um contratempo!

Por que não o contrário? 

Nasceríamos velhos, ficaríamos crianças, 

pequeninos, inocentes e morreríamos bebê,

Sem nada saber…

Sim, esse senhor parece voar,

como a águia, como o pensamento.

Parece intocável, como sonhar.

Vai em qualquer direção como o vento.

Começamos a morrer no segundo seguinte,

Logo que nascemos, dizem. 

Que paradoxo. Que dicotomia. Que ironia. 

Vir e partir. Nascer e perecer.

Em cada novo alvorecer,

Usando cada segundo desse tempo,

Ao meu Salvador quero engrandecer.

O Pão do Céu será meu alimento.

E como um vaso imperfeito,

Que o Oleiro faça em mim um novo advento.

E o ser que eu era seja refeito,

Mesmo diante do inexorável tempo.

E a cada novo amanhecer,

Quero anunciar de voz e de coração: 

“Bendirei o Senhor o tempo todo! 

Os meus lábios sempre o louvarão”. 

Por Tony Oliveira – 12/04/2024

Indagações de um Peregrino

Que vontade é essa de ser o que ainda não sou?

Que desejo é esse de estar onde ainda não estou?

Que ansiedade é essa de um lugar para qual eu vou?

Que desejo é esse de conhecer o destino que aqui me levou?

Que vontade é essa de alcançar o infinito?

Que desejo é esse de encontrar-se com o Bendito?

Que vontade é essa de reter as águas que correm pelas mãos?

Que desejo é esse de não aceitar da vida os Nãos?

Que vontade é essa de correr para além do horizonte?

Que desejo é esse de rever os que estão já tão longe?

Que vontade é essa de voltar o tempo?

Que desejo é esse de alcançar o vento?

Que vontade é essa de explicar a tudo?

Que desejo é esse de fugir do luto?

Que vontade é essa de não ser o que hoje sou?

Que saudade é essa por tudo que o tempo levou?

Que vontade é essa de Te fazer tantas indagações?

Que desejo é esse de cruzar as constelações?

Em meio às muitas perguntas nesta efêmera vida

Quando tudo parece esvair-se tal qual fumaça

Meu coração se enche de uma gratidão devida

Desejoso sempre da Tua infindável Graça.

Por Tony Oliveira – 12/03/2024

Um réu de quem Tu Te afeiçoas!

O réu adentra a sala fria e vexatória. O júri já está pronto. A decisão já fora tomada. Os advogados já usaram todas as suas argumentações, a favor e contra. O martelo será batido pondo um final a tudo. O juiz tem pressa.

Um ar de morte paira no ar. A morte da liberdade. A cela, gelada, aguarda pelo condenado que ali deve ficar por uma longa temporada. É o preço dos delitos cometidos. A dívida teria que ser paga.

Todos parecem apenas assistir, atônitos, àquela derradeira cena. Faz-se um silêncio sepulcral. A expectativa pode ser sentida em cada olhar, em cada respirar. E como que numa arena romana, todos aguardam as feras devorarem o moribundo e infeliz devedor.

Mas, esperem! Um outro advogado surge, de repente, magnífico, adornado em roupas brancas como a neve. Seu olhar profundo parece sondar não apenas o coração do réu cabisbaixo, mas o de todos os presentes e a cada um.

Uma voz suave, certeira, sublime é ouvida nos quatro cantos: “quem não tiver cometido nenhum crime ao longo de sua vida que atire a primeira pedra”. E todos se lembraram da história contada, há muito tempo, quando um certo mestre galileu escrevia na areia quando confrontado por “vários julgadores em um outro famoso tribunal”.

O tal advogado caminha até o magistrado, coberto por sua “impecável” toga, outrora resoluto e certo da decisão já tomada pela corte, suprema. A cada passo, Aquele se agiganta, e este se apequena. O semblante do novo defensor ofusca a todos. Parece que o próprio Sol adentrara o recinto, iluminando-o, derrotando toda sombra e cheiro de trevas.

De repente, um olhar amoroso, único, penetrante alcança a face do réu, já entregue à derrota total. E este sente, no olhar daquele intruso, um perdão como que esmagando sua culpa e livrando-o do castigo eterno. Sem palavras audíveis, a liberdade lhe é anunciada: Tetelestai! 

Era a Semana Santa. O réu indigno, agora livre, se dirige ao seu santo advogado, agora seu Senhor e Salvador e canta, do mais íntimo do seu coração agraciado, esta bela canção:

“Amor que tudo me perdoas!

Amor que até mesmo abençoas

Um réu de quem Tu Te afeiçoas!

Vencido, ó Salvador, por Ti

Teu grande amor senti!”

Por Tony Oliveira – 26/03/2024

Conheça 5 mulheres que marcaram a história da Igreja Cristã (por Pastor Eli Vieira em site: Agreste Presbiteriano)

Sojourner Truth – A notável escrava que se tornou evangelista

Sojourner Truth se tornou uma inspiração por sua fé e luta pelos direitos das mulheres e pelo abolicionismo. Nascida em 1797 como Isabella Baumfree, era filha de escravos. Por essa condição, passou a infância sofrendo abusos de vários ‘donos’.

Sojourner foi escrava por trinta anos e sofreu muito: seus irmãos e irmãs foram vendidos na infância, ela cresceu sem educação e permaneceu analfabeta por toda a vida. Aos nove anos, a menina foi vendida em leilão com um rebanho de ovelhas por US$ 100.

Entre 1810 e 1827 ela ficou casada com outro escravo chamado Thomas, com quem teve cinco filhos. A liberdade de sua filha Sophia foi comprada por US$ 20 por uma família abolicionista amiga, mas seus outros filhos ainda eram legalmente escravos, razão pela qual ela foi forçada a deixá-los para trás.

Visões e voz de Deus

Desde a infância, Isabella tinha visões e ouvia vozes, que ela atribuía a Deus. Na cidade de Nova York, ela se associou a Elijah Pierson, um missionário zeloso. Trabalhando e pregando nas ruas, ela ingressou na Sociedade de Retenção e, eventualmente, em sua casa.

Em 1843 ela deixou a cidade de Nova York e adotou o nome Sojourner Truth, que passou a usar. Obedecendo a um chamado sobrenatural para “viajar para cima e para baixo pela terra”, ela cantou, pregou e debateu nas reuniões campais, nas igrejas e nas ruas das aldeias, exortando seus ouvintes a aceitar a mensagem bíblica da bondade de Deus e da fraternidade dos homens.

Em 1850, ela viajou por todo o meio oeste, onde sua reputação de magnetismo pessoal a precedeu e atraiu grandes multidões. Ela era uma evangelista poderosa, mas falava cada vez mais sobre reforma social, fosse escravidão, direitos das mulheres ou condições de prisão. Mesmo quando ela pregava sobre questões sociais, seu amor por Jesus e pela Bíblia sempre fazia parte do que ela dizia.

Mary Jones – A menina que inspirou a criação da Sociedade Bíblica

Mary Jones nasceu em 16 de dezembro de 1784, um pequeno vilarejo em um dos vales profundos do Norte de Gales. Seus pais eram devotos metodistas calvinistas, e ela mesma professou a fé cristã aos oito anos de idade. Era de uma família pobre, filha de um tecelão, que vivia em Llanfihangel-y-pennant.

Tendo aprendido a ler nas escolas circulantes organizadas pelo reverendo Thomas Charles, tornou-se seu desejo ardente possuir uma Bíblia própria, o que era difícil, tendo em vista que custava muito caro.

A cópia mais próxima estava em uma fazenda a três quilômetros de distância de sua pequena cabana, e não havia nenhuma cópia à venda mais perto do que Bala, que ficava a 42 quilômetros de distância. E não era certo que uma cópia pudesse ser obtida lá. A Bíblia galesa era escassa naquela época.

Tendo economizado por seis anos até ter dinheiro suficiente para pagar por uma cópia, em uma manhã do ano de 1.800 Mary saiu de Bala e caminhou 42 quilômetros por terrenos montanhosos, descalça como de costume, para obter uma cópia das mãos do Rev. Thomas Charles, o único que tinha Bíblias à venda na região.

De acordo com uma versão da história, o reverendo disse a ela que todas as cópias que ele recebeu foram vendidas ou já estavam reservadas. Mary ficou tão chateada que Charles acabou vendendo a ela uma das cópias que já havia sido prometida a outro.

Em outra versão, ela teve que esperar dois dias pela chegada de um suprimento de Bíblias e conseguiu comprar uma cópia para si e duas outras cópias para membros de sua família.

Sociedade Bíblica

Segundo a tradição, foi a impressão que esta visita de Mary Jones deixou sobre ele que impeliu Charles a propor ao Council of the Religious Tract Society a formação de uma Sociedade para fornecer Bíblias ao País de Gales.

E em 1804 a British and Foreign Bible Society (agora a Sociedade Bíblica) foi formada. Cerca de 300 pessoas de várias denominações se ofereceram para formar a sociedade. O propósito da sociedade na formação era fornecer Bíblias mais fáceis, mais baratas ou até gratuitas para todas as pessoas.

Há uma história que, aos 70 anos, Mary Jones deu meio soberano – uma quantia significativa naquela época – para o apelo da Sociedade Bíblica para imprimir um milhão de Novo Testamento chinês.

Elisabeth Elliot – A missionária que serviu à tribo que matou seu marido

Elisabeth Elliot (nascida Howard) nasceu em 21 de dezembro de 1926 em Bruxelas, na Bélgica, onde seus pais serviram como missionários. Ela se mudou para os Estados Unidos ainda criança para estudar. Lá, bem jovem, ela fez uma profissão pessoal de fé para seguir a Cristo.

Elisabeth logo sentiu o chamado de Deus para ser missionária. Em 1944, com a intenção de se tornar uma tradutora da Bíblia, ela se matriculou no Wheaton College, onde conheceu Jim Elliot, que tinha um chamado semelhante para missões e com quem teve um longo romance.

Em Wheaton, a menina estudou grego clássico para capacitá-la a trabalhar na área de línguas não escritas durante seu futuro trabalho missionário.

Após a formatura, Elisabeth treinou como tradutora da Bíblia e, em 1952, ela e Jim foram para o Equador para trabalhar como missionários.

Em 1953, Jim e Elisabeth se casaram em Quito, Equador, e continuaram seu trabalho naquele país. Dois anos depois, eles tiveram sua filha Valerie.

Chamado para servir

Após a morte de seu marido, Jim Elliot, ela se sentiu chamada por Deus para testemunhar aos que mataram seu marido, e voltou ao Equador com sua filha. Trabalhando com uma tribo adjacente, ela orou por uma oportunidade de fazer contato com os Waodani.

Finalmente, uma mulher Waodani apareceu, permitindo que Elisabeth começasse a aprender a língua e, depois de ter sido prometida segurança, Elisabeth, sua filha de três anos e Rachel Saint (irmã do piloto assassinado) foram morar com os Waodani.

Ela ensinou não apenas sobre o trabalho missionário, mas também sobre muitos aspectos da vida cristã. Como a década de 1960 trouxe enormes mudanças culturais, ela se viu comentando sobre o papel da mulher, onde essa mulher, a mais corajosa, se posicionou contra o feminismo.

Shi Meiyu – A primeira médica missionária da China

Shi Meiyu nasceu em 1º de maio de 1873 em Jiujiang, nas margens do rio Yangtze, na China. Seus pais eram cristãos de primeira geração: seu pai, pastor metodista, e sua mãe, diretora de uma escola cristã.

Por milênios, as mulheres tiveram um papel de segunda classe bem definido na cultura chinesa. Das muitas injustiças enfrentadas pelas meninas, a pior era que ainda era costume amarrar os pés de uma jovem, esmagando os ossos para produzir pequenos pés que eram a marca registrada de uma classe social superior. Em uma decisão que prefigurou as ações radicais de sua filha, seus pais se recusaram a fazer isso.

Zombada por ter seus pés soltos, Shi Meiyu cresceu como uma forasteira e seu pai, impressionado pela médica ocidental Gertrude Howe, que também era missionária, de família Quaker americana, decidiu que a filha deveria estudar medicina.

Ela foi enviada aos Estados Unidos em 1892 para estudar medicina. Diante de uma incapacidade generalizada de pronunciar seu nome, Shi Meiyu adotou o nome de ‘Mary Stone’ e, em 1896, ela a amiga Kang Cheng, que adotou o nome de ‘Ida Kahn’, se tornaram as primeiras mulheres chinesas a se formarem em medicina ocidental.

Shi Meiyu combinou as mãos de uma cirurgiã, o coração de uma evangelista e a mente de uma administradora para se tornar uma das grandes mulheres cristãs chinesas do século 20.

Missão médica

Já como médica, Shi Meiyu voltou para Jiujiang e, com apenas 24 anos, estava confiante de que era hora de os cristãos chineses assumirem a liderança. Assim, abriu uma clínica junto com a colega. Com apoio financeiro americano, ela logo conseguiu abrir um hospital com 95 leitos.

Shi Meiyu passou quase cinquenta anos trabalhando na China. Por causa da sua baixa estatura, ela tinha que se sentar em um banquinho para operar. Logo ela se tornou uma cirurgiã respeitada. Ela também distribuía remédios e fazia cansativas consultas médicas no interior, onde costumava tratar cinquenta pacientes por dia. No entanto, Shi Meiyu foi muito mais do que apenas uma médica pioneira e durante anos não foi apenas a administradora do hospital, mas também criou e dirigiu programas de treinamento para enfermeiras.

Sua visão não conhecia limites e ela estava envolvida na criação de hospitais, centros de treinamento e escolas em toda a China, uma nação quase do tamanho da Europa.

Amanda Smith – Primeira mulher negra a se tornar evangelista internacional

Amanda Berry Smith nasceu em 23 de janeiro de 1837, como escrava, cresceu no condado de York, Pensilvânia; seu pai, Samuel Berry, ganhou dinheiro suficiente com trabalho extra para comprar a liberdade para si mesmo, sua esposa e filhos.

Eles se mudaram para o condado de York, Pensilvânia, onde sua casa se tornou uma estação da estrada de ferro subterrânea. Lá eles tiveram mais sete filhos.

Apesar da pobreza de sua educação, Amanda cresceu cercada de orações e leitura da Bíblia e foi ensinada a ler e escrever por seus pais.

Ela trabalhou brevemente como lavadeira e empregada doméstica para sustentar sua família antes de se casar com Calvin M. Devine em 1854.

Ele morreu como soldado da União na Guerra Civil. Ela se mudou para a Filadélfia em 1863 e se casou com James H. Smith, um diácono de uma Igreja Episcopal Metodista Africana. Smith teve dois filhos com o primeiro marido, três com o segundo, mas apenas uma filha, Mazie, sobreviveu à infância.

Ela se tornou ativa no movimento de Santidade, que exortava todos os crentes, independentemente de sua situação ou status, a compartilhar publicamente sua fé.

Em 1869, ela pregava regularmente em igrejas afro-americanas em Nova York e Nova Jersey e também para públicos brancos. O sucesso de Smith em pregar para uma audiência branca em um acampamento de santidade no verão de 1870 a levou a se comprometer inteiramente com o evangelismo.

Viagens missionárias

Embora ela não tenha sido ordenada ou apoiada financeiramente pela Anderson Chapel AME Church ou qualquer outra organização, ela se tornou a primeira mulher negra a trabalhar como evangelista internacional em 1878. Ela serviu por doze anos evangelizando na Inglaterra, Irlanda, Escócia, Índia e vários países africanos.

De 1879 a 1881 ela esteve na Índia, e depois de outra breve estada na Inglaterra, ela partiu em 1881 para a África Ocidental. Por oito anos ela fez trabalho missionário na Libéria e em Serra Leoa. Após outra estada na Grã-Bretanha de 1889 a 1890, ela voltou aos Estados Unidos. Ela pregou nas cidades do leste até 1892, quando se mudou para Chicago.

Em 1893, Smith publicou An Autobiography. Os rendimentos do livro, junto com suas economias, a renda de um pequeno jornal que publicou e presentes de outras pessoas, permitiram que ela abrisse um lar para órfãos afro-americanos em Harvey, Illinois, em 1899. Por fim, ela retomou a pregação e cantando para sustentar o lar.

Ela escreveu um jornal mensal, o Helper, que aumentou seus esforços de arrecadação de fundos para a escola.

Agreste Presbiteriano

Pastor Eli Vieira é casado com Maria Goretti e pai de Eli Neto. Responsável pelo site Agreste Presbiteriano, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Missiologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, Recife-PE e cursando Psicologia na UNINASSAU. Exerce o seu ministério pastoral na Igreja Presbiteriana do Brasil desde o ano 1997 ajudando as pessoas a encontrarem esperança e salvação por meio de Jesus Cristo. Desde a sua infância serve ao Senhor, sendo educado por seus pais aos pés do Senhor Jesus que me libertou e salvou para sua honra e glória.

Antoine de Saint-Exupéry: 80 anos da partida do piloto poeta

Era uma vez um piloto cujo avião teve uma pane no deserto do Saara. Ele acorda de manhã, depois de sua primeira noite no distante deserto, e ouve uma “vozinha estranha”. É a voz de uma criança que pede para o homem desenhar um carneiro para ela. O aviador então desenha uma caixa, que agrada ao menino, pois o carneiro está dentro dela. O piloto passa a chamar esse menino de “pequeno príncipe”. A criança faz várias perguntas, mas não responde às perguntas do homem. Mais tarde, ele descobre que o principezinho vem de um longínquo e misterioso asteroide perdido no Espaço.

Assim se inicia uma das histórias mais belas, mais lidas e apreciadas das últimas décadas. Trata-se do livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, conhecido como o “poeta da aviação” por ter tornado a carreira de piloto matéria-prima de sua literatura. Segundo algumas fontes, mais de 200 milhões de exemplares já foram vendidos em todo o mundo, o que faz dele um dos maiores best-sellers da Literatura mundial. O escritor ficou famoso um pouco antes quando outro  livro seu, “Voo noturno” foi adaptado para o cinema americano.

Exupéry teve uma vida curta, foram apenas 44 anos. Porém, uma vida muito bem vivida, rica, desbravadora, aventureira, alvissareira, porque não dizer globalizada. Conheceu vários países, tendo até morado na Argentina onde conheceu a salvadorenha Consuelo, que também era escritora e com quem se casaria em 1931. Além desta, Antoine fora influenciado, desde cedo, por pessoas ligadas ao mundo da literatura. Filho de um conde e uma condessa, teve uma educação de qualidade em seu país e devido a mudanças na dinâmica familiar, como a morte do seu pai, em 1918, foi morar com uma prima, casada com outro  conde, de Trévise, em Paris. Esta possuía um salão literário, onde Saint-Exupéry teve a oportunidade de conhecer vários escritores famosos. Seu interesse por aviões também começou na tenra infância e durante as férias, em 1912, fez seu primeiro voo. A intenção do escritor sempre foi ingressar na Força Aérea, porém essa ideia sofreu oposição de sua primeira noiva, a também escritora Louise de Vilmorin. No entanto, o noivado com ela durou apenas alguns meses.

Aos 18 anos foi reprovado no exame oral para entrar na Escola Naval. Porém no ano de 1921, ingressou no serviço militar como mecânico assistente, em Estrasburgo. Meses depois, foi transferido para o Marrocos. No fim do ano, conseguiu a licença de piloto militar. Já em 1923, sofreu seu primeiro acidente de avião, durante um voo de lazer.

Com a invasão dos nazistas na França, Exupéry fugiu para os Estados Unidos. Nesse período, escreveu Carta a Um Refém e incentivado por editores americanos, que viram sua habilidade como desenhista amador, começou a fazer uma obra para crianças. Foi quando em 1943, escreveu o livro que se tornaria sua obra mais importante: O Pequeno Príncipe, uma fábula infantil para adultos, cuja obra é rica em simbolismo, com personagens como a serpente, a rosa, o adulto solitário e a raposa. Quem já leu se lembra muito bem deles.

Em 2024 completa-se oitenta anos da partida ou do desaparecimento deste que é considerado um piloto poeta por excelência. Suas duas grandes paixões, voar e escrever, fizeram de Exupéry um ícone tanto para a Aviação como para a Literatura universal. O relato oficial diz que durante uma missão de reconhecimento para a Força Aérea dos Aliados, após uma decolagem de algum ponto do norte da África, fora abatido por um caça alemão.Tal como o pequeno príncipe, no final do seu livro, Saint-Exupéry parece ter apenas desaparecido da terra, pois seu corpo nunca foi encontrado. Em 2004, foram recolhidos os destroços do avião que ele pilotava, a poucos quilômetros da costa de Marselha, na França.

O piloto e escritor francês foi um homem muito à frente do seu tempo, um apaixonado pelos ares, um cidadão do mundo. Fez travessias pelo oceano atlântico correndo risco de vida, ajudando a impulsionar as rotas aéreas entre Europa, África e América. Chegou a pousar no Brasil algumas vezes. Deixou-nos como legado uma rica obra que ainda hoje conquista os corações tanto de crianças como de adultos. Além de  tudo isso, ainda tornou-se um heroi de guerra ao dar sua vida defendendo os países aliados na ferrenha luta contra as forças nazistas durante o triste episódio da Segunda Guerra Mundial. Certamente, ele tem sido um grande exemplo para muitas gerações que vieram a partir dele. 

Exupéry conseguiu, como poucos, transitar de maneira única entre duas áreas aparentemente opostas. Não apenas transitar, mas uni-las. Enquanto na Aviação exige-se perícia técnica, muitos cálculos e um raciocínio analítico, a Literatura, principalmente a ficcionista, atua com os sentimentos, com a poesia, alcança o íntimo do coração. Por isso sua originalidade e excepcionalidade fizeram dele uma figura sem–par, alguém que, como o pequeno príncipe, parecia vir de algum outro lugar distante e utópico.

Naquela manhã de 31 julho de 1944, o aviador francês fez sua última decolagem e sumiu no mar Mediterrâneo. O mundo perdia um grande piloto e um notável poeta, porém, seu amor e abnegação por voar e unir povos, bem como sua maestria em nos elevar a lugares nunca antes visitados por meio da arte de escrever, ficaram latentes entre nós convidando-nos a também sonharmos com um mundo melhor, mais inocente, mais humano. Como fazem, tão bem, as crianças.

Exupéry nos ensina e nos ajuda a enxergar mais longe, a ver “o carneiro dentro da caixa”, a buscar o extraordinário, a lutar por um mundo mais leve e a voarmos nas asas da imaginação, afinal, como declarou seu pequeno amigo naquele distante e imaginário deserto, o menino príncipe: “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”.

Por Tony Oliveira – 15/03/2024

O tempero da vida

Assim como a água ou o ar, sem os quais não vivemos, o sal é um elemento fundamental para nossas vidas. Sem ele, a alimentação fica sem graça, sem vida, quase insuportável. Passe uns dias num hospital e você verá qual o significado de uma comida insossa. Paradoxalmente, é o componente mais barato de nossa lista de compras, chega a ficar quase escondido nas prateleiras dos supermercados. Porém, quando misturado a uma comida ou a um prato favorito, descobre-se seu valor único, insubstituível.

Certa feita, Jesus, ainda no início de seu ministério lá pelas bandas da Galileia, ao pronunciar aquele que seria conhecido como um dos seus maiores e mais profundos sermões, o do Monte (Mt 5 a 8), falou sobre o sal. Conta-nos o escritor Mateus, aquele que havia sido coletor de impostos e decidiu largar sua profissão vergonhosa (cobrava dinheiro de um povo sofrido para manter o luxo de um Império que o dominava), que Jesus subiu num monte e passou a ensinar seus discípulos mais próximos. Suas palavras seriam duras mostrando o peso que seus seguidores deveriam carregar, mas também o privilégio que teriam em conhecer e espalhar os valores do reino que ele estava inaugurando. Claro, eles ainda não tinham ideia do tamanho, da profundidade e das implicações da decisão de seguir o Messias que já havia sido identificado e reconhecido por Batista ainda no ventre de sua mãe, Isabel (Lc 1.41).

Numa parte do seu discurso, o Mestre declara: “Vós sois o sal da terra; se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens” (Mt 5.13). Acompanhado por uma multidão que vinha de todas as bandas, sua fama de pregador e operador de milagres itinerante já havia se espalhado em pouco tempo, o primo de João Batista usou a figura do sal para ensinar grandes verdades aos que lhe ouviam. Ele era um expert em metaforizar enquanto ensinava, sempre se utilizando de figuras e elementos comuns àquele povo e àquela cultura, o que facilitava a absorção da mensagem pela multidão analfabeta, na sua maioria. Mas por que o sal desta vez?

O cloreto de sódio era muito abundante na Palestina e parte da produção insípida que não era vendida era guardada no templo sob ordem dos sacerdotes para ser usada durante o curto período de frio quando chegava a nevar em Jerusalém. Durante esse tempo, o piso do templo ficava muito escorregadio e, portanto, perigoso para os fieis. Então os líderes do templo mandavam espalhar o sal que havia sido guardado sobre a neve para que esta se dissipasse. Assim sendo, as pessoas “pisavam” no sal insípido enquanto andavam pelo pátio. Por isso Jesus disse no versículo citado qual seria o fim do sal que não serve para salgar: ser pisado pelos homens, somente. Interessante observar que tal prática, usar sal para derreter a neve, ainda é usada até os dias de hoje em várias partes do mundo.


Ao ler e meditar nestas palavras do Cristo registradas pela pena de Levi, o outro nome de Mateus, fico pensando como tenho vivido enquanto seguidor ou discípulo de Jesus. Será se tenho, de fato, como o sal, cumprido minha função de salgar, ou seja, de levar sabor, tempero aos que me cercam fazendo-lhes enxergar a vida sob a ótica da Palavra de Deus? Pergunto a mesma coisa sobre a igreja atual. Estamos contribuindo em levar o “bom perfume de Cristo” a um mundo mal cheiroso, defeituoso, para usar outra metáfora bíblica, desta vez retirada de Paulo? (2 Co 2). Ou até mesmo se nós não estamos “exagerando na dose”, julgando e condenando as pessoas, antes do tempo, com nossa própria régua ou padrão ético (e não com o padrão da justiça de Deus), e assim como o mar morto, cujo teor de salinidade é dez vezes maior que o normal, matando vidas impossibilitando que haja peixes em suas águas . Enfim, sal de menos ou sal demais são dois extremos os quais devemos evitar.

Além da função principal já citada, este mineral atua ainda como condimento e antisséptico. No primeiro caso ele dá sabor aos alimentos, aumentando seu valor e propiciando deleite aos seus usuários. No segundo, permite que se evite a proliferação de fungos e bactérias não permitindo a decomposição de alimentos e possíveis infecções, ou seja, um verdadeiro remédio para o corpo. Mas, infelizmente, a vida de muitos cristãos hoje tem mais a ver com mel do que com sal. Procura-se mais “adoçar a própria vida do que salgar o mundo”.

Assim como o sal muda a química dos alimentos e superfícies por onde passa, o cristão maduro e comprometido com os princípios e ditames do reino de Deus deve atuar, proposital e deliberadamente, para mudar estruturas e ideologias que denigrem a imagem do homem feito à semelhança do Criador, que tentam ofuscar a presença e a luz do Evangelho, o único que tem poder para transformar de verdade corações e mentes, corpo e alma.

Que possamos nos encharcar dele, o Cristo de Deus, e assim espalhar sal ao nosso redor, não um sal desprovido de sua salinidade que será desprezado e pisado pelos homens, mas um sal vigoroso, que tem a força de levar vida aos alimentos e prazer verdadeiro aos seus degustadores. Só assim o Corpo de Cristo será percebido na terra e fará a diferença até que Ele volte.

Que não sejamos como o mar morto, cuja existência é egoísta e autocentrada, mas como um oceano vivo, salgado na medida certa e próprio para receber e manter vidas em suas águas. Que nossa existência seja um banquete suprido pelo “Pão que desceu do céu” (Jo 6.51) onde muitos possam usufruir conosco do maná que sacia nossa fome e sede de justiça e de uma vida temperada com o sal que traz  cura para nossas enfermidades e deleite para nossa alma.

Por Tony Oliveira – 07/03/24